Estamos fazendo um série de entrevistas com os profissionais da Advocacia Mariz de Oliveira. A seguir, a conversa com Renata Mariz de Oliveira.
O que levou você a escolher a profissão de advogada?
Eu tive muita influência da minha família, especialmente do meu pai, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, e do meu avô, Waldemar Mariz de Oliveira, com quem tive a alegria de trabalhar por dois anos. Antes de eu entrar na faculdade, minhas amigas já me falavam que eu levava jeito para ser advogada. Acho que percebiam meu jeito “contestadora”. Para falar a verdade, nunca pensei em escolher nenhuma outra carreira.
E quando você percebeu que tinha acertado na escolha?
Quando eu era pequena e acompanhava meus pais em cerimônias, como a posse de meu avô como desembargador do Tribunal de Justiça, já ficava maravilhada com a imponência daquele local. Todos os lugares que ia – além do Tribunal de Justiça, o Fórum João Mendes – eu me sentia muito bem. A emoção é frequente quando vou nesses lugares, me gera um sentimento de pertencimento. Estava tudo muito enraizado. Isso seguiu quando, profissionalmente, comecei a ir ao Fórum, assistir a um julgamento, sustentação oral …
Qual a importância da Advocacia Mariz de Oliveira na sua trajetória?
Máxima importância tanto no âmbito pessoal, quanto profissional. Tenho o privilégio de estar muito próxima aos meus pais. Com meu pai pude absorver não só sua excelência como advogado, mas também sua paixão, dedicação e vocação. É impressionante porque toda vez que o assisto em uma sustentação oral ou em uma intervenção em audiência parece ser a primeira vez. É inspirador. Mas também devo muito a todas as pessoas que passaram por lá ou que lá trabalham porque aprendo com todos.
Você se lembra da sua primeira conquista. Ou seja, da primeira vez que percebeu a importância da sua atuação na vida de alguém?
Teve um fato, há quase vinte anos, que me marcou muito. Foi a soltura de um menino na véspera do Ano Novo. A mãe estava acompanhando a audiência e observar sua apreensão foi angustiante. Devolver uma pessoa livre para os braços da mãe é uma das cenas mais lindas de um tribunal. Não tem como não se emocionar. Um outro fato que me marcou foi surpreendente. Teríamos um julgamento importante aqui em São Paulo, o recebimento de uma ação penal. Por coincidência, essa mesma ação penal poderia ser trancada em Brasília. Eu e meu pai fomos para Brasília para acompanhar essa decisão e dez minutos antes de começar o julgamento em São Paulo, a ação foi trancada no STF. Não tinha email na época, tive de correr para pegar a decisão e passar um fax para o escritório. No Fórum paulistano, o advogado Sérgio Alvarenga pôde pedir a palavra e falar: “essa ação é incabível porque acabamos de receber a decisão de que ela foi trancada no STF”. Foi emocionante.
O que te frustra profissionalmente?
A incompreensão que as pessoas têm da profissão. Muitos ainda acham que os advogados defendem o crime e não o cliente. É um absurdo que tenhamos de repetir conceitos básicos do direito de defesa o tempo inteiro. Além disso, me incomoda a fala de que o Brasil é o país da impunidade. Somos o terceiro país que mais encarcera no mundo. Estamos, inclusive, na contramão de países como China e Estados Unidos – que têm as maiores populações carcerárias do planeta – e já estão fazendo um esforço de desencarcerar.
Você ainda tem energia para encarar essas discussões e tentar mudar essa visão?
Eu oscilo. Algumas vezes estou mais paciente, em outras menos. Mas agora, com tudo o que estamos vivendo, tenho o sentimento de que não podemos cansar. Não temos essa opção, temos de seguir falando, educando, debatendo. Estou em uma fase que, em muitos grupos que frequento, sou uma das mais experientes. Não posso desanimar, senão os mais novos desanimarão também.
O que mudou na advocacia desde que você se formou?
Muita coisa. Mudou a forma de advogar, a aproximação com os funcionários. O que mais gosto da profissão é o contato com as pessoas no fórum, no balcão. Tem funcionários que eu conheço há 25 anos. Com a informatização, essa relação está acabando. Eu vivi a advocacia em que os estagiários se encontravam na lanchonete do Fórum João Mendes, todo mundo ia para o sétimo andar tomar Milk Shake, cada um com sua fichinha, com as anotações sobre os casos. Era mais olho no olho. Para mim essa é a maior e a pior mudança. Além disso, há novas modalidades de crimes. Outro aspecto é que atualmente há uma visão mais mercantilista da advocacia e menos humanista.
Qual é sua contribuição para a história da Advocacia Mariz de Oliveira?
Na pandemia, adquiri um papel maior na interlocução das demandas do meu pai com os demais membros da equipe, cuidando do fluxo das informações. Mas sempre acompanhei os casos da Justiça Federal. Também acho que tenho habilidade no contato com as pessoas.
Que recado daria para a Renata recém-formada?
Até posso dizer para ela estudar mais, que sempre é bom, mas nada substitui o dia-a-dia. Falaria para ela não ter inseguranças e seguir porque vai valer a pena. E também recomendaria a ela não ter medo de explorar alguma habilidade pessoal e usá-la na rotina profissional para não se forçar a fazer um papel que não é dela.
O que contribuiu para sua formação?
Sem dúvida a vivência constante com tantos outros colegas de profissão. Só de observá-los eu consegui absorver muito conhecimento. Posso citar também que me envolver em entidades de classe e da sociedade civil me fez ampliar meus conhecimentos.
O que é justiça para você?
Penso que Justiça é a finalidade do direito. É um valor que deve ser a base da interpretação da Lei.
Como você se enxerga daqui 10 anos?
Me vejo trabalhando em uma justiça criminal mais bem compreendida. Espero também ver os advogados mais valorizados. Estarei também engajada em ações da sociedade civil com temáticas de meu interesse e da sociedade, como o sistema prisional.