Compliance, grosso modo, é tratado atualmente pelas empresas como a criação e implementação de mecanismos para garantir o cumprimento da lei e das normas e regras internas de cada organização. E, nesse contexto, onde entra a tal liberdade? A princípio, nada mais paradoxal do que liberdade e criação e obediência a regras. Mas parte da poesia da vida reside justamente nos paradoxos.
Tomando um exemplo bastante extremo – e até mesmo simplista –, quanto maior o nível de compliance nas empresas, menor o risco para a liberdade de seus responsáveis quando algo der errado. E as coisas, muitas vezes dão errado, pois não se pode controlar tudo e todos o tempo inteiro. Essa visão por si só já é positiva, mas seria muito limitante resumir o compliance à prevenção e à blindagem jurídica.
Compliance é, e deve ser visto como, instrumento de mudança de cultura. Forma eficiente para as empresas estabelecerem um relacionamento sincero e íntegro de cuidado com todos seus stakeholders, as chamadas partes interessadas, a saber: funcionários, parceiros, investidores, clientes, meio ambiente, comunidade/sociedade e também o governo. Criar e direcionar a cultura empresarial de acordo com um propósito que leve em conta o cuidado com as partes interessadas é, sim, libertar-se de uma forma de fazer negócios baseada exclusivamente na extração implacável de resultados, modelo que se mostra de fato esgotado nos dias atuais. Caminhar rumo ao conceito de capitalismo consciente é compliance e, portanto, liberdade.
Mais do que isso, encarar o compliance como instrumento de mudança de cultura, especialmente no Brasil, é libertar-se de uma forma viciada e nefasta de fazer negócios e que tanto nos tem prejudicado como sociedade. Não há mais espaço para o “jeitinho brasileiro”. O tempo é agora. Tempo de agir com integridade e cuidado, tempo de liberdade.
Por Leonardo Alonso
Advogado especializado em compliance, prevenção de riscos e gestão de crises.
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