Artigos & Publicações

Estamos fazendo um série de entrevistas com os profissionais da Advocacia Mariz de Oliveira. A seguir, a conversa com Fábio Mariz de Oliveira.

 

O que levou você a escolher a profissão de advogado?

Tive convívio desde sempre com a advocacia por causa do meu pai, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira. Também tive influência do meu tio, José Eduardo, que gostava muito de temas humanistas. Ele trabalhou na Casa de Detenção de São Paulo e me contava muitas histórias de lá. Além disso, antes mesmo de entrar na faculdade eu trabalhei por dois anos no escritório na área administrativa. Isso me deu a oportunidade de conhecer o dia a dia, ficava observando todos, ouvindo as conversas, as estratégias.

 

Qual foi o momento que você entendeu que tinha feito uma boa escolha profissional?

Foi logo no primeiro mês de faculdade. Comecei a estagiar no escritório dos advogados Gerson Mendonça e Gustavo Francez, onde tive um desafio que me marcou muito. Era o caso de um rapaz do interior de São Paulo que tinha se separado da esposa de uma forma bastante conturbada. Ele veio para São Paulo para morar com a mãe, mas teve dificuldade de conseguir emprego, caiu em depressão. Preocupado em pagar a pensão dos filhos, cometeu um ato impensado: roubou 8 headsets, fones de ouvido com microfone, mas foi preso quando tentou revender. Os advogados entraram com pedido de liberdade em uma quinta-feira e me mandaram para o Fórum com a recomendação que eu só saísse de lá com o alvará de soltura. No dia seguinte voltei para lá e tive, pela primeira vez, que despachar com um juiz. Fiquei muito nervoso e preocupado como iria pagar a fiança por causa do horário de funcionamento do banco. Quando meus chefes chegaram no final do dia tínhamos acabado de conseguir a soltura e ficou determinado que eu poderia pagar a fiança na segunda-feira. Já estava saindo pela rampa do Fórum quando o irmão do réu chegou, me deu um abraço e me disse: “te agradeço pelo que você fez e te agradeço em nome da minha mãe.” Ali eu vi que era isso que eu queria para minha vida toda.

 

Quais outros momentos importantes de sua carreira na Advocacia Mariz de Oliveira?

Minha primeira sustentação oral no Órgão Especial do Tribunal Regional Federal foi muito marcante. Foi um caso difícil, mas que eu tive a oportunidade de atuar e, felizmente, ter um resultado favorável. Eu pedi para o meu pai para fazer essa sustentação oral. Em um primeiro momento ele relutou, achando que eu não estava pronto. Eu compreendi. Depois de ser adiada, a sustentação foi pautada para o dia seguinte e não daria para nenhum outro advogado se preparar. Eu insisti que estava apto, fui, fiz e deu tudo certo. Um alívio e também um orgulho. Outra fase muito marcante foi ter acompanhado o caso do ex-presidente Michel Temer. Eu fui com meu pai em todos os atos em Brasília, então pude conhecer o cotidiano de um presidente da República, ir ao Jaburu, Alvorada, Palácio do Planalto, Câmara… Teve um dia que fomos protocolar a defesa do ex-Presidente na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Havia muitas pessoas em um corredor apertado esperando para entrar em uma sala. Meu pai entrou e quando fui com ele, o segurança me impediu. A questão é que eu e nosso colega Brian Alvez Prado estávamos segurando a defesa. Então, disse para o segurança: “se não entrarmos, não tem protocolo.” Ele levou um susto e nos deixou passar na hora. Ou seja, foi uma fase de grande aprendizado das questões jurídicas, mas também de observar um cotidiano distante da minha realidade. Vivi um momento histórico.

 

Qual a importância da Advocacia Mariz de Oliveira na sua vida?

A Advocacia Mariz de Oliveira sempre está no centro das grandes discussões do direito penal, sempre na vanguarda da defesa da advocacia e isso é mérito do meu pai. Ele traz consigo a personificação da defesa da advocacia e do trabalho ético acima de tudo. A credibilidade criada em torno do escritório representa um bom palco para discussões relevantes dentro dos autos. E meu pai é incansável, muito vocacionado e que tem como grande paixão a advocacia. Você conversa com qualquer profissional e eles identificam meu pai como um defensor da classe, portanto, de cada um de nós. Isso é inspirador e também traz a responsabilidade de seguirmos sempre dessa forma.

 

O que te frustra profissionalmente?

A incapacidade dos profissionais do direito, principalmente promotores e juízes, sem generalizar, de analisar com cuidado os fatos e pensar no aspecto humano. Sei que estão todos muito sobrecarregados, mas, mesmo assim, é necessário um cuidado maior na avaliação de cada processo. Sabemos que a visão punitivista da sociedade leva a um discurso de ódio que não funciona, visto que a nossa população carcerária só cresce, hoje é a terceira maior do mundo, e o crime não diminuiu, pelo contrário, aumentou.  Essa faceta punitivista restringe direitos individuais e pode atingir justamente aquele que aplaudiu e que, um dia, pode estar sentado no banco dos réus.

 

O que mudou na advocacia desde que se formou, há dez anos?

A forma de acompanhamento dos processos. Antes tínhamos de ir nos lugares em busca da informação, conversar, fazer amizade. Com isso acho que éramos mais combativos, proativos. A geração mais nova perdeu essa oportunidade porque esse corpo a corpo com escreventes, escrivães, operadores do direito em geral, nos faz aprender muito. Além disso, hoje tem o que chamamos do “neo advogado”, aquele que saiu da faculdade e entrou no direito penal, ou mesmo mudou de área para o criminal, pensando apenas em fazer dinheiro. Dinheiro é consequência. A motivação para alguém que quer atuar como advogado criminal é o humanismo, a busca da liberdade e da justiça. Vejo também que algumas pessoas escolhem a área, mas o primeiro objetivo é fazer carreira no funcionalismo público. Exercer a advocacia está como última opção. Acho isso muito ruim porque trata-se de uma profissão pela qual você tem de ser muito vocacionado.

 

Qual sua principal contribuição para a Advocacia Mariz de Oliveira?

Eu acho que minha facilidade na comunicação e no relacionamento entre as pessoas de qualquer segmento, não só direito. Eu transito junto aos advogados e demais personagens do mundo jurídico … Outro dia precisávamos de um correspondente em Rondônia. Com poucas ligações, consegui cinco. Ou seja, me relacionar com os outros traz benefícios.

 

Que recado você daria para algum recém-formado?

Ouvir os mais experientes do escritório, se colocar à disposição para ajudar em qualquer momento, enfrentar desafios, ser proativo. Além disso, conversar sobre direito com outras pessoas e ter boas conexões.

 

O que contribui para sua formação?

São os diálogos que tenho com amigos, com meu pai, com todas as pessoas. As derrotas também contribuem para o meu crescimento.

 

O que é justiça para você?

Justiça criminal para mim é a aplicação das leis penais e da Constituição sem se esquecer do mundo exterior, nem das mazelas da sociedade. Também é garantir uma batalha jurídica com paridade entre todos os pólos do mundo jurídico.

 

Como você se enxerga daqui 20 anos?

Mais maduro profissionalmente, mas com o mesmo espírito humanista e entusiasmo juvenil. Espero ainda estar sendo a voz e a vez de quem não tem voz nem vez.