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Estamos fazendo um série de entrevistas com os profissionais da Advocacia Mariz de Oliveira. A seguir, a conversa com Jorge Urbani Salomão.

 

O que levou você a escolher a profissão de advogado?

Eu entrei na faculdade de Direito para me tornar delegado de polícia. Ao longo do curso, contudo, fui perdendo o interesse pela carreira, principalmente pela desvalorização do policial, de uma forma geral, no Brasil. A partir de então passei a tomar gosto pela advocacia, interesse que foi reforçado quando comecei a estagiar no contencioso. Ali eu percebi que poderia resgatar algo da infância: a vontade de defender o outro. Depois, percebi que o que mais se aproximava da rotina de um delegado de polícia era a advocacia criminal. Por isso, resolvi trilhar esse caminho.

 

Quando foi que você percebeu que tinha acertado na escolha?

Eu gostei de advogar desde o primeiro momento. Passei na prova da OAB e fui trabalhar em um escritório pequeno que atuava em todas as áreas do Direito. Percebi que estava fazendo a coisa certa quando impetrei meu primeiro habeas corpus e ganhei. Isso não tem preço.

 

Você se lembra de alguma outra conquista? Aquele momento que percebeu sua importância na vida de alguém?

Um momento emblemático foi no final do ano de 2016, quando um cliente da Advocacia Mariz de Oliveira foi preso sob a acusação de tráfico de drogas, mas era usuário. Ele foi preso no começo de novembro daquele ano. Conseguimos tirá-lo da cadeia na véspera do Natal e vê-lo ser recebido pela família foi de uma enorme satisfação. Não posso deixar de citar, também, a defesa do ex-presidente Michel Temer. Eu me orgulho de ter representado um presidente da República. Mas, é bom lembrar que no escritório casos que geram repercussão não são diferentes daqueles que não geram. O nosso empenho é o mesmo. A gente não olha o cliente em si, mas o Direito que ele está precisando que seja socorrido. A liberdade e a justiça vêm em primeiro lugar, seja para um presidente da República, seja para um anônimo.

 

Qual o papel da Advocacia Mariz de Oliveira na sua vida?

Não dá para falar da Advocacia Mariz de Oliveira sem falar do Dr. Mariz. O papel dele é muito importante na minha carreira, porque com ele a gente aprende todos os dias. A cada petição que ele faz ou a cada petição minha que ele corrige é uma aula. Estou há quase dez anos no escritório e o Jorge que entrou aqui em 2011 não é o mesmo e reputo isso aos ensinamentos do Dr. Mariz. Seja em uma reunião ou conversando no bar, conviver com ele me moldou como advogado e como pessoa.

 

Qual seu papel na Advocacia Mariz de Oliveira?

Eu acho que contribuo ao “pensar fora da caixa” por ter passado por outras áreas antes da criminal. Essa experiência me deixou mais “ousado”, digamos assim. Direito não é uma ciência exata. Contanto que não estejamos falando nenhuma bobagem jurídica, podemos criar estratégias das mais diversas. Temos que ser o primeiro juiz da causa, sem dúvida. Mas, quando falamos em liberdade, a gente não mede esforços para pedir por ela. E é aí que entra essa “ousadia”, essa coragem a que me refiro.

 

O que te frustra profissionalmente?

Os julgamentos em “massa”. Principalmente agora, na pandemia, estou sentindo que os atores da cena jurídica não estão dando a devida atenção às petições apresentadas, às sustentações orais realizadas, talvez até mesmo pelo excesso de trabalho… Os julgamentos e as audiências, via de regra, estão ocorrendo por videoconferência e acho que a tela gera um cansaço extra, uma diminuição do foco e da atenção. Muitas vezes você tem um direito líquido e certo, não teria como perder, mas, de repente, o pedido é negado, talvez por uma desatenção motivada pelo atual momento por nós vivido.

 

Mudou muita coisa desde que se formou?

Mudou. Eu me formei há treze anos. Sou contemporâneo à lei que dispôs sobre a informatização do processo judicial, em 2006. Hoje em dia, salvo engano, 75% dos processos judiciais no Brasil são eletrônicos. Eu acho que essa foi a grande mudança e isso fez com que as pessoas deixassem de ir ao fórum com mais frequência, por exemplo. Com a tecnologia, ficou mais fácil fazer uma petição, juntar documentos, tudo a partir do escritório. Consequentemente, os processos se tornaram muito maiores, com inúmeros volumes. Não é confortável ler pela tela do computador e acho que essa é outra mudança importante havida de lá para cá.

 

Qual recado você daria para o Jorge da faculdade?

Eu falaria para ele aproveitar um pouco mais o curso. Entrei na faculdade com 17 anos e eu era muito tímido. Deveria ter aproveitado mais os professores, perguntado mais… Esse recado eu estendo aos jovens de hoje: esgotem seus professores com suas dúvidas, perguntem tudo e aproveitem do primeiro ao último dia do curso.

 

O que contribui para sua formação hoje?

A leitura de artigos específicos da nossa área e de textos dos próprios sites dos Tribunais a respeito de decisões. A partir dessas leituras, discuto com os demais advogados do escritório para ampliar o debate e estarmos sempre atualizados de acordo com os recentes julgados e poder oferecer a melhor defesa aos nossos clientes.

 

O que é Justiça?

Justiça é a aplicação pura e simples do Direito sem que haja a convicção pessoal do julgador. Muitas vezes vemos opiniões ou influência da mídia sendo levadas em consideração numa decisão, ainda que de forma tácita, e isso não homenageia o ideal de justiça. O convencimento do juiz deve estar motivado nas provas produzidas no processo e nunca no seu íntimo.

 

Como você se enxerga daqui 20 anos?

Espero estar trabalhando firme e forte, solidificando a minha experiência por intermédio do caminho que venho trilhando na advocacia criminal e contribuindo para que o Direito possa sempre ser bem aplicado. Tenho a esperança de que daqui a 20 anos os ideais de justiça e liberdade possam ser mais concretos e menos influenciáveis do que são hoje em dia.