Artigos & Publicações

Por Fábio Mariz de Oliveira

O desfile do carnaval carioca de 1989 é um ótimo exemplo de como o samba aborda a Liberdade.

Naquele carnaval tivemos um dos mais impactantes desfiles da história, o da Beija Flor. A escola, comandada pelo carnavalesco Joãozinho Trinta, levou à avenida o clássico “Ratos e Urubus… larguem minhas fantasias”. Em seu enredo a escola representou o lixo contra o luxo. O luxo sempre foi a principal característica da carreira do carnavalesco, mas em 1989 Joãozinho Trinta trouxe alas aos trapos, envoltas em urubus e sucatas, eternizando a frase: “vamos surpreender pela opulência dos restos”. E assim o foi.

E por que retratar lixo e luxo nos leva ao tema liberdade? É aqui que Joãozinho Trinta demonstrou mais uma vez sua genialidade.
Dias antes do desfile, a Arquidiocese do Rio de Janeiro entrou com um pedido judicial para que a prometida imagem de Cristo fantasiado de mendigo não fosse exibida na avenida. O pedido foi acatado, o que obrigou a Beija Flor a modificar seu abre alas, principal alegoria de qualquer desfile de carnaval.

De forma brilhante, a Beija Flor entrou na Marquês da Sapucaí com a imagem de Cristo coberto por lona preta e os dizeres: “MESMO PROIBIDO, OLHAI POR NÓS!!” A liberdade se faz e se busca. Até nas adversidades alcançá-la sempre deve ser nossa vontade.

A Beija Flor e Joãozinho Trinta souberam, em tempos de recente democratização, nos ensinar que mesmo censurados teremos a liberdade como preceito inegociável, e que mesmo proibido estarão olhando por nós.

Por fim, uma curiosidade: a Beija Flor não foi a campeã, mas a escola Imperatriz Leopoldinense. O tema? “Liberdade, Liberdade, abra as asas sobre nós”, frase citada em nosso livro LIBERDADE.

#amoliberdade
#liberdade
#sambaenredo
#carnaval