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A entrevista a seguir foi feita com o advogada Paola Zanelato antes do confinamento. Nossa intenção é que os leitores conheçam os profissionais que atuam na Advocacia Mariz de Oliveira, que, em home office, seguem com a mesma dedicação de sempre.

 

O que levou você a escolher a profissão de advogada?

Desde o Ensino Médio eu pensava em ser psicóloga, mas não sei bem por qual razão, na hora de prestar vestibular, optei também pelo Direito. Acabei passando nos dois e até me matriculei em psicologia, mas escolhi Direito. Entendia que de alguma forma eu queria trabalhar com algo ligado a relações sociais, ao auxílio a outras pessoas. E o Direito, especialmente na minha área de atuação, tem bastante relação com a psicologia. Quando comecei a faculdade, não sabia a área que seguiria. Mas assim que começaram as aulas de Direito Penal, percebi imediatamente que gostava. Talvez porque tenha alguma ligação com as relações humanas, já que eu sempre busco entender a essência das pessoas e até mesmo porque algumas condutas acontecem.

 

O que mais te atrai no Direito Penal?

Eu gosto das histórias por trás do acontecimento, de analisar as provas que estão nos processos em que trabalho, de desvendar o que um falou e comparar com o que foi declarado por outra pessoa. Gosto de descobrir e construir a narrativa humana que levou ao fato.

 

Como você ingressou na Advocacia Mariz de Oliveira?

Prestei um concurso no segundo ano da Faculdade para ingressar no Tribunal Regional Federal, onde trabalhei até o início do 5 ano. Na secretaria em que eu trabalhava, eram analisados processos de matéria previdenciária e penal, ou seja, foi ali meu primeiro contato prático com o Direito Penal. Trabalhei com processo fisicamente e gostei do assunto e de entender como funciona. No final da faculdade, achei que precisava sair de lá porque queria advogar. Fui procurar pessoas que pudessem me indicar escritórios da área, já que, na época, não existiam muitos. Fui conversar com os quatro desembargadores com quem eu trabalhava e um deles me apresentou para o Dr. Mariz. Deu certo. Entrei no escritório em janeiro de 1992.

 

Qual a importância da Advocacia Mariz de Oliveira na sua trajetória?

A minha trajetória profissional se efetivou integralmente na Advocacia Mariz de Oliveira. Ainda que tenha uma experiência anterior, ela foi apenas o início na área jurídica e me trouxe impulso para buscar ingresso na advocacia. E não poderia ter tido oportunidade mais primorosa que a chance que recebi do Antônio Cláudio (Dr. Mariz) quando ainda era estudante. Desde o primeiro dia vi que era aquilo que gostaria de fazer. Busquei com toda a energia possível aprender em cada tarefa e procurar, a cada dia, mais e mais projetos para me dedicar. O escritório atuava em processos de naturezas diversas – e até hoje é assim – o que contribuiu muito para o meu aprendizado. Desde o início tive o privilégio de ter contato com casos de grande envergadura e, aos poucos, fui recebendo confiança para trabalhar em processos de maior complexidade. Em razão disso, fui me desenvolvendo e buscando me aprimorar no meu ofício. Mesmo passados quase trinta anos, o aprendizado ainda é diário ainda mais porque tenho o privilégio de conviver diariamente com Antônio Cláudio (Dr. Mariz), o que é motivo de orgulho pessoal e profunda gratidão.

 

O Direito Penal mudou muito desde quando você começou na Advocacia Mariz de Oliveira, há 28 anos?

Sim. O dia a dia no escritório não era tão ocupado pelos casos de competência da Justiça Federal como é hoje. De outro lado, havia uma atuação mais volumosa na Justiça Estadual. Algumas mudanças legislativas foram modificando a incidência de determinados processos. Houve a criação dos Juizados Especiais Criminais, alterações na lei de trânsito, entre outros fatores. Fazer essa observação sobre a mudança da nossa rotina

através dos anos mostra como o Direito Penal se alterou. Temos hoje mais casos relacionados às questões empresariais, aos crimes de colarinho branco, às questões penais tributárias. Isso acontece porque foi aumentando a incidência de casos destas naturezas ao longo dos anos, mostrando que até mesmo a tolerância para algumas condutas está diferente. Nesse sentido, nossa rotina muda também.

 

Pode citar alguma conquista importante da sua carreira?

Um dos casos que mais foi marcante para mim tratava de um acidente aéreo que, justamente por sua natureza, acabou gerando grande repercussão. Foi um processo bastante abrangente, com a colheita de inúmeros depoimentos, elaboração de vários laudos periciais e análise de muitos aspectos técnicos. Eu tinha plena convicção que não havia crime naqueles fatos. A dor das famílias vitimadas era latente e plenamente compreensível, mas não havia preocupação alguma com as pessoas que estavam sendo acusadas de um crime tão grave e que não cometeram. Os réus foram absolvidos em primeira instância e a decisão foi confirmada pelo Tribunal. Ambas as decisões fizeram uma primorosa análise de todas as provas, o que me trouxe uma grande satisfação por ter trabalhado arduamente em um caso em que a justiça foi muito bem aplicada.

Eu lembro de um outro caso que aconteceu há uns 20 anos em que um funcionário de uma empresa de despachos aduaneiros foi preso em flagrante pela alegada prática de tráfico de entorpecentes. Ele acompanhava a verificação física de uma carga que seria despachada quando a droga foi encontrada pelos fiscais. Ele foi preso mesmo sem saber o real conteúdo daqueles volumes. O remetente naturalmente criou obstáculos para sua real identificação e a responsabilidade recaiu indevidamente sobre este rapaz. Fomos contratados pelo empregador que buscava a reparação daquela inusitada situação. Ele era um rapaz humilde e sempre percebi que, mesmo sofrendo muito com aquela situação, confiava em nós. Foi um trabalho intenso em que foram necessárias várias medidas para esclarecer o que de fato ocorreu. Eu estava com ele na audiência em que foi sentenciado. Felizmente ele foi absolvido tornando aquele momento muito especial na minha carreira. Foi muito impactante para mim a sensação de ver a justiça sendo feita. Fiquei esperando cumprir o alvará e levei ele para casa no mesmo dia. Lembro dos filhos bem pequenos virem correndo no portão de sua casa para abraçá-lo… Foi um caso muito emblemático.

 

Os casos em geral são longos. Como é lidar com o reconhecimento sempre demorado?

Temos no escritório um caso bastante complexo, envolvendo vários processos que começaram em 1995 e que foi muito importante para o meu desenvolvimento profissional por envolver um tema que eu não tinha familiaridade alguma. Em termos de quantidade de processos e resultado, acho que foi bastante exitoso. Mas ainda não terminou e tenho de lidar com essa espera pelo resultado. Hoje já estou acostumada.

 

O advogado carrega a responsabilidade da vida de alguém. De que forma lida com isso?

No começo da carreira, me sentia muito responsável e isso até me assustava um pouco. Também havia medo porque é muito sério. Um eventual deslize pode causar um dano incalculável. Por outro lado, essa responsabilidade me fazia sentir necessária, tendo relevância na vida de alguém. Com o tempo fui aprendendo a lidar melhor com essas emoções e a entender que faz parte da vocação.

 

O que te frustra profissionalmente?

A intolerância do momento atual. Parte-se do pressuposto de que se a pessoa foi envolvida em algum inquérito ou processo é porque tem algo errado, já tem a culpa. A sensação é que o advogado entra para o jogo com uma espécie de “ponto negativo”. Entra em débito. O advogado primeiro tem de conseguir a atenção do juiz, depois tem de eliminar qualquer ruído, convicção ou pré julgamento. Aí, sim, pode falar dos fatos. A sensação que tenho é que o trabalho nunca é suficiente. A justiça penal é artesanal, específica para cada caso. Se julgar de forma massificada não vai funcionar.

 

O que mais mudou desde que você começou?

A tecnologia no meio jurídico chegou para mudar e, a meu ver, é positivo. Deu mais agilidade para nossa rotina quando bem aplicada.

 

Qual é a sua contribuição para a Advocacia Mariz de Oliveira?

Tenho sempre a preocupação com a integração das pessoas. Acho fundamental. Para mim, uma equipe deve ser composta por pessoas que conversem entre si, que tenham aptidões diferentes e que, bem por isso, se completam. É o que torna toda engrenagem bacana. Se há algum problema, busco sempre ouvir as duas partes, com diplomacia. Acho que além das questões jurídicas, essa é minha principal contribuição.

 

Qual recado você daria para a Paola recém-formada?

No começo da carreira eu me dediquei até exageradamente ao escritório. Mas eu estava muito empolgada e queria muito aprender. Não mudaria nada em relação a isso. É muito importante quando somos recém-formados. E continuei trabalhando com muita dedicação durante todos estes anos. Gosto de fazer dessa forma porque é assim que fico com a sensação de dever cumprido.

 

O que é justiça para você?

Para obter justiça temos de partir do básico: respeitar as leis e a Constituição. É somente desta maneira que a justiça se opera. As decisões precisam se afastar de qualquer conceito pré-concebido e, especialmente, da intolerância que tem se mostrado presente em nossa sociedade atual, infelizmente.

 

Como você se vê daqui 20 anos?

Quero ter uma vida mais desacelerada. Quero sempre produzir, mas com mais calma. Produzir me move e dá sentido à minha vida.

 

O que contribui para sua formação hoje?

O que mais me enriquece é a conversa com os outros. Adoro trocar ideia com meus colegas e amigos de profissão. Peço muita opinião, gosto de ver o outro ponto de vista. Ouvir o que o outro pensa só me acrescenta, mesmo que eu discorde.