Por Paola Zanelato e Sérgio Alvarenga
Mantivemos um contato muito próximo com o Dr. Mário Sérgio Duarte Garcia no curso do ano 2000.
Já o conhecíamos anteriormente, claro. Ele sempre foi amigo, de longa data, do Dr. Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Assim, na condição de membros da Advocacia Mariz de Oliveira, até então havíamos mantido contatos profissionais e sociais. Mas eventuais e breves.
Só conhecíamos o grande advogado Mário Sérgio Duarte Garcia. Sempre cortês e elegante.
No ano de 2000, porém, o Dr. Mário Sérgio Duarte Garcia assumiu, em conjunto com Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, a defesa comum de um cliente. Foi um caso extremamente rumoroso na época. O cliente era uma pessoa pública. Os fatos, barulhentos. E por exigir uma defesa interdisciplinar, os dois especialistas somaram esforços.
O cliente tinha seus problemas, mas não era bobo…
Pois bem. O complexo caso exigiu, por meses, uma dedicação quase que exclusiva dos mestres. Para facilitar a organização dos trabalhos, o Dr. Mário Sérgio Duarte Garcia passou a frequentar diariamente o nosso escritório, ainda localizado na Rua Nestor Pestana. Praticamente, para lá mudou seu endereço profissional no período.
Chegava cedo, trazendo consigo sua secretária, Sra. Graça, e ficava o dia inteiro.
Nós demos suporte aos mestres na construção da defesa. Que presente! Que aula!
Pronto. Foi então que o Dr. Mário Sérgio Duarte Garcia passou a ser, para nós, apenas o Dr. Mário.
O advogado, como já dito, sempre cortês e elegante, para quem dispensávamos um tratamento solene, deu lugar a uma pessoa extremamente bem humorada, brincalhona, feliz. Se fôssemos obrigados a escolher um único adjetivo para classifica-lo, cremos que o mais adequado seria esse: Feliz!
Foi um período de convivência intensa e enorme aprendizado. O aperto de mãos forte, o abraço apertado, eram sinais de verdadeiro carinho.
Nos finais de tarde, após o trabalho do dia, já relaxados, ouvíamos suas histórias. Sempre cheias de humor. Sempre carregadas de graça. Sempre repletas de enlevo.
Às sextas-feiras, nos permitíamos “animar” a conversa com uma dose ou duas.
Quando soube que a avó da primeira signatária adorava cozinhar tomando uma “pinguinha”, encontrou o pretexto que precisava. Como produzia cachaça em sua fazenda, trazia garrafas para presentear aquela que ele apelidou de “Vovó Pinguinha”. Mas, para certificar-se da virtude do presente, trazia mais uma garrafa para que antes fizéssemos o “controle de qualidade da safra”.
E dessa forma passamos meses. Fomos apresentados a uma pessoa realmente notável. Um advogado qualificadíssimo. E uma alma especialmente terna, com o peculiar dom de dar ânimo aos que o cercam.
O cliente que uniu os escritórios era daqueles que nutriam uma forte aversão popular. Seu índice de impopularidade era altíssimo.
E a confusão que se faz entre advogado e cliente não é de hoje. Apenas por exercerem muito bem sua profissão, Dr. Mário e Dr. Mariz foram gravemente agredidos por um jornalista, em um diário de grande circulação em São Paulo.
Tivemos a honra, então, de sermos constituídos seus defensores com a finalidade de ajuizar uma queixa-crime pela prática do delito de injúria cometido pelo jornalista.
Na elaboração da inicial da queixa-crime, fizemos a citação de uma doutrina do eterno Nelson Hungria que, por sua vez, trazia uma passagem de uma doutrina em alemão, que o próprio autor traduzira para o português.
Dr. Mário adorou e, desde então, só nos saudava dizendo palavras em alemão – ou, desconfiamos na nossa ignorância, dizendo palavras que pareciam alemãs…
Diante do nosso constrangido silêncio por não saber responder, gargalhava!
O tempo passou. A defesa do cliente comum foi, como seria mesmo de se esperar, exitosa.
O jornalista se retratou publicamente das ofensas proferidas.
E se o nosso convívio deixou de ser diário, até hoje se mantém terno. Podemos dizer que ganhamos, além de um sábio professor, um verdadeiro amigo.
Sempre que nos encontramos somos presenteados com aquele abraço bem forte e palavras de afeto. Em alemão, claro!