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Pequena crônica de um advogado apenas fazendo a higiene bucal

A criatura – recém foragida do esgoto, a julgar pela falta de capacidade de viver em sociedade – decide, talvez imaginando ser apenas uma manifestação da sua liberdade de expressão, ofender agressivamente um advogado, no banheiro do aeroporto, enquanto ele escovava seus dentes.

O pecado do advogado a justificar a fúria? Ter exercido a advocacia…

Mas o espécime não gosta do cliente defendido pelo advogado. Na verdade, levando em conta o resultado alcançado, cabe ser mais contundente: muito bem defendido pelo profissional! Daí a ira!

Mostrou-se inicialmente mau caráter. Para eternizar o ato, adrede planejado, optou por filmar tudo, com seu telefone celular. O objetivo inicial era, claramente, receber em troca uma agressão. Que seria, convenhamos, natural e plenamente justificável. E, então, tentar fabricar uma falsa e inconsistente posição de vítima. Provavelmente bradar: “Vejam como eles são violentos!”.

A extraordinária e invejável fleuma do advogado o frustrou. Quisera eu ter tamanha frieza.

E então uma segunda característica do organismo se destaca: a burrice.

Ele faz prova contra si mesmo. Primeiro, filmando-se no espelho, permitindo a fácil identificação.

Depois – considerando que as imagens veiculadas são do seu próprio telefone – seguramente orgulhoso, espalhou sua constrangedora incivilidade para companheiros de latrina, tornando perene as evidências do seu crime.

Pelo ultraje, deve ter ganhado posições na hierarquia entre seus pares, lá possivelmente compreendido como uma ousadia, uma bravura.

Aqui, indubitavelmente, “ganhará” um processo.

E, ironicamente, esperará que o seu advogado tenha um desempenho tão dedicado e exitoso como teve o alvo do seu frenesi.

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Sérgio Alvarenga
12 de janeiro de 2023